(texto escrito em 2012, a propósito da internacionalização da Arquitectura Portuguesa)
Num país de dez milhões de habitantes, onde a arquitectura é vista algures entre uma profissão de luxo ou um empecilho à pragmática tecnocracia dominante, a internacionalização da Arquitectura Portuguesa, tem acontecido.
Ao longo dos anos, de forma institucional e colectiva – bienais, trienais, publicações, exposições – de forma individual - concursos, nomeações, menções e premiações – tem sido trilhado um percurso fora de portas que veio assegurar um reconhecimento internacional na cena arquitectónica. A atribuição de Pritzker Prize proporcionou, por outro lado, a mediatização deste reconhecimento internacional, fazendo eco dentro do próprio país. (santos da casa não fazem milagres?!).
De que internacionalização falamos? No meio académico, na prática profissional, na divulgação de uma cultura arquitectónica de matriz nacional, na realização de projectos, na prestação de serviços?
O reconhecimento internacional da arquitectura nacional – aquela se considerou institucionalmente como exportável é real, no meio disciplinar1. Onde quer que um arquitecto português aterre (literal e figurativamente), um pré-conhecimento de uma cultura arquitectónica portuguesa aguarda-o, mesmo que com nuances romanceadas e lugares comuns não totalmente verdadeiros.
Mas, quando falamos em internacionalização agora, neste específico contexto político, económico, social, estaremos provavelmente a falar de exportação de arquitectura, da sua prática profissional.
Tudo mudou: não havendo encomenda, não existem condições para o exercício da profissão de forma digna e independente. Como hobby ou part-time talvez, mas em claro contraciclo com o profissionalismo cada vez mais imprescindível na sua prática.
Será que falar em internacionalização agora será também falar em emigração dos arquitectos
portugueses? Quando as ferramentas são o capital intelectual e criativo próprio, será uma condição da internacionalização da arquitectura portuguesa projectar em Portugal? Ou serão os arquitectos eles próprios, o veículo da internacionalização, independentemente do sítio onde projectam? É um facto: o capital cultural português está a deslocalizar-se, a espalhar-se fora de fronteiras.
Da acalmia da possibilidade (ainda que ilusória), promotora de hábitos, certezas, garantias e ritos (comodismos e conformismos), transitou-se para a impossibilidade, dúvida e descrença. Esta nova condição tem em si as sementes de um recomeço, o impulso à reflexão, à acção, num novo debate da disciplina, das formas e condições da prática profissional.
Impulso também, por vontade e/ou necessidade, de passar fronteiras, de internacionalizar,
individual e colectivamente. Nesta nova possibilidade nascida da impossibilidade, cria-se o espaço para (re)aprender a lidar com a condição de dependência própria da profissão, reflectir e agir, pensar num futuro para a arquitectura portuguesa.
“Do caos nascem estrelas”, ou “da crise nasce a consciência”; depois de um momento de pensar e promover a arquitectura fora de portas na senda da internacionalização, será talvez o momento de repensar uma nacionalização da arquitectura portuguesa, estimando e estimulando as boas práticas existentes [resistentes] no território nacional e criando as condições para que o crescente número de arquitectos que saem do país – numa lógica de internacionalizemigração - possa regressar com todo o seu know-how acumulado.
Sim, porque por desejo ou contingência, a internacionalização é já uma realidade.
Marselha, Dezembro 2012
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